Lauro, Sophia e o mar

Rodrigo Bressane
3 min readDec 22, 2015

Na praia, um garoto em prantos olha o horizonte esplêndido, infinito, sem saber que mal fez aos mares para que tanta dor lhe trouxessem. Com seus encantos infinitos e pletora de habitantes formidáveis, o oceano escolheu o mais ensolarado dos dias para ferir o peito do menino que sequer sabia sofrer. Engoliu o corpo, a mente, a voz, o cheiro, o gosto, todos os suspiros de quem ele amava como nunca amou. A água levou-lhe Sophia. As ondas roubaram-lhe a vida.

© Rodrigo Bressane

Lauro nasceu errado. Dos pais, levou a combinação de genes e nada dos gênios. Amigos, fez poucos. Preservou nenhum. Aprendeu a desprezar as raízes logo cedo, aumentando o perímetro destas enquanto crescia. Cumpriu as obrigações da vida o mais rápido que pôde. Não demorou a cansar-se delas. Ainda pirralho, achou que a jornada estava cumprida. Trabalho feito. Caso encerrado. Nada mais lhe inspirava. Acordava com a certeza de que hoje seria, no melhor cenário, exatamente igual a ontem.

Mas aí veio o destino. Veio Sophia. A garota de cabelos longos, jeito de princesa, olhos de anjo, lábios doces, pensamento afiado. Sophia surgiu sem que Lauro soubesse como. O moleque dormiu solitário e acordou de mãos dadas com o sentido da vida. Sem saber como, Lauro descobriu-se capaz de amar. Aprendeu a rir, chorar, sentir. Lauro respirava Sophia.

Foi aí que o Universo, cruel que só ele, resolveu tirar, com a mesma mão que deu, o sopro da vida. Levou Sophia para o mar. Deixou Lauro na praia. Arrastou a menina para as profundezas. Largou o menino a olhar para o horizonte. Ainda esplêndido. Ainda infinito.

A boca do sapo

Tem gente que não gosta do Cabra Mail. E eu sei disso porque, toda vez que eu mando uma edição, uns três gatos pingados cancelam a assinatura.

Tem gente que ODEIA o Cabra Mail. E eu sei disso porque, toda vez que eu mando uma edição, uns três gatos pingados me marcam como SPAM.

Depois de colocar todo mundo na boca do sapo eu me pergunto: será que estou errando nos assuntos?

O Cabra Mail não tem formato. Serve para tirar besteiras da minha cabeça e colocar na cabeça dos outros — um jeito de compartilhar temas que me atormentam, de dividir a carga.

A corrida de táxi da minha vida, com o Sr. Weissmamn, foi uma das edições mais lidas e comentadas. Nela contei como conheci uma das pessoas mais incríveis de todos os tempos, em Buenos Aires. A experiência, que me emociona até hoje, ficou ainda mais forte — e esta parte eu nunca contei — quando soube da sua morte, poucos meses depois, vítima de um tumor no cérebro. Não consegui me despedir, mas ouvi de sua irmã — que me deu a triste notícia — o quanto ele ficou contente por ter me conhecido e como marquei, também, a sua vida.

Outros temas, como o meu recém adquirido alcoolismo, não tiveram uma resposta tão boa. Não sei se as pessoas ficam com receio de me ofender, ou se é porque o papo é ruim mesmo — embora tenha sido uma carta tão sincera como as outras, com o agravante da confissão.

Hoje, escrevi uma ficção de quatro parágrafos. Meu treino para virar um grande escritor em universos paralelos. Provavelmente o primeiro Cabra Mail em que faço isso. E, quer saber? Gostei. Mas lá vai o formato pro Limbo de novo.

Conheço gente que escreve coisas parecidas e insiste em dizer que é tudo para consumo próprio. Um registro pessoal da vida que tem na leitura e apreço dos outros nada mais que um efeito colateral.

Mais egocêntrico que o resto do mundo, vejo tudo ao contrário. É por causa de quem lê que se escreve. É pela crítica que se provoca. A reação é o alimento da ação.

Portanto, dita toda essa ladainha, sinta-se não apenas à vontade, mas sempre convidado a participar dos Cabra Mail. Transformá-lo numa conversa, provavelmente fará dele uma tortura menor para todos nós. Com isso, menos gente cancela a assinatura, menos gente me marca como Spam, menos gente vai pra boca do sapo. Todo mundo ganha. Exceto o sapo.

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